Como acabar com a vida financeira dos seus filhos
Crianças têm recursos limitados para lidar com as questões financeiras. Colocá-las nas situações erradas pode gerar um futuro disfuncional e ansiogênico com o dinheiro.
Dia das Crianças batendo na porta e decidimos aproveitar a data para falar sobre educação financeira infantil.
Talvez você não saiba, mas eu, Adriana, tenho 3 filhos e já trabalhei com educação financeira infantil, inclusive, lançamos em 2017 um curso online de educação financeira para pais. Então, sabemos como educar uma criança, seja para lidar com o dinheiro, seja para qualquer outra coisa, é um processo complexo (e intenso).
Na prática cotidiana, não seremos perfeitos, porque não dá para ser perfeito, e tá tudo bem. A gente faz o que pode, segue um pouco a nossa bendita intuição, mas sabemos como apoio e boas orientações fazem toda a diferença.
A orientação de hoje é sobre o que não fazer na hora de introduzir seu filho no mundo do dinheiro.
Por amor, não faça isso
Às vezes ficamos ansiosos e preocupados com o dinheiro: “será que vai dar até o final do mês?” “O que fazer para pagar aquela conta?” “E aquela outra dívida que esta aumentando?”, e muito justamente procuramos alguém para desabafar e dividir a situação. A questão é: essa pessoa não deve ser o seu filho.
Sem se dar conta, você coloca o mundo adulto nas costas de uma criança, que não têm os recursos necessários para lidar com esse tipo de situação e acaba sofrendo uma sobrecarga emocional.
Afinal, as crianças não têm a capacidade emocional e cognitiva de entender completamente as complexidades financeiras, o que pode levá-las a se sentirem culpadas, ansiosas ou impotentes com a situação.
Mas temos que ter cuidado não só sobre dividir diretamente os problemas com elas, mas também sobre dividi-los indiretamente.
O centro do universo
O mundo das crianças é egocentrado. Isso significa que elas tendem a se ver como o centro do universo, interpretando o mundo em torno delas de acordo com sua própria perspectiva. Por essa razão, elas tendem a acreditar que são responsáveis por eventos ou situações que estão além de seu controle.
É por isso que basta a criança escutar os pais tendo uma conversa sobre dinheiro que uma série de confusões podem ser criadas na sua cabeça.
Há um bom tempo publiquei um post sobre isso no Instagram e um dos comentários mostra bem as consequências:
Pois é, imagina…
Essa é a razão para preservamos ao máximo nosso filhos das questões financeiras adultas. Facilmente uma criança vai ser sentir culpada pelos gastos da família e ver no dinheiro uma fonte de ansiedade, o que é extremamente prejudicial a longo prazo.
Saiba o seu lugar (e o do seu filho)
Pra resumir, faça o possível para que esse tipo de situação não aconteça:
Discutir sobre dívidas familiares na frente das crianças;
Pedir para as crianças atenderem telefonemas de cobranças;
Desabafar com as crianças sobre suas preocupações financeiras;
Expressar ansiedade sobre despesas;
Usar as crianças como mediadoras dos pais (divorciados ou não).
Tudo isso pode sobrecarregar a criança.
Essencialmente, o problema é a inversão de papéis, quando a crianças de forma (geralmente) implícita e inconsciente se torna responsável pelo emocional dos pais, ou seja, quando ela se torna (ou se sente) responsável por tornar a situação mais agradável. Só que esse papel não é da criança.
Detalhe importante: como já falamos, a criança naturalmente vai se colocar nesse lugar pelo seu egocentrismo. A função de regular a situação e pôr cada um em seu devido lugar é do adulto.
Nesse vídeo, que é um trecho do aprimoramento para psicólogos, eu falo um pouquinho sobre tudo isso (1min46s):
Pode ser difícil não envolver as crianças nas nossas emoções, especialmente quando as questões financeiras disparam nossas ansiedades, preocupações e medos. Realmente, não te jeito, para dar uma boa educação para nossos filhos, vamos ter que nos educar primeiro!
Sabemos que o tema é amplo e muitas dúvidas podem surgir, então se você quiser fazer uma pergunta, pedir alguma orientação, é só deixar um comentário abaixo ou responder a esse email. Vamos responder na próxima edição.
Psi, essa é pra você
Falando em como as famílias influenciam nossa relação com o dinheiro, quais recursos você usa em consultório para levantar informações sobre a história familiar do seu cliente?
Por aqui, eu uso muito o Genograma Financeiro, que nada mais é que uma representação gráfica da família focada na dimensão financeira.
Ajuda muito a identificar repetições, crenças e traumas relacionados ao uso do dinheiro ao longo das gerações.
Nesse caso, por exemplo, é a representação de uma família em que Antônio e Rita são casados. Tem 4 filhos, Pedro, Lia, Clara e Joaquim. Clara faleceu quando tinha 17 anos. Rita tem uma relação de super proteção com o filho Pedro, seu primogênito. Frequentemente ela paga suas dívidas.
Eu uso símbolos pré-estabelecidos para representar os relacionamentos entre os membros e costumo colher informações sobre a profissão, situação financeira, relação com o dinheiro e sobre o dinheiro nos relacionamentos. Traz uma clareza danada.
E por aí, quais ferramentas você usa ou, se já fez algum dos meus cursos e aprendeu o Genograma Financeiro, como tem sido na prática? Só deixar seu comentário ou responder a esse email!