O que torna os “individualistas” pessoas mais felizes
O ingrediente essencial para uma vida financeira mais satisfatória e autêntica
Você vai precisar de uma dose de bom individualismo para ser financeiramente feliz, mas não é exatamente o tipo de individualismo que você deve está pensando.
Afinal, sabemos bem onde o individualismo pode levar: isolamento social, alienação existencial, vazio espiritual, estresse crônico… e se você já nos acompanha, sabe bem que temos fortes críticas a isso tudo, mas hoje vamos definir o individualismo de forma a trazer uma nova nuance e abrir outras perspectivas sobre o assunto.
O argumento é que, entendendo o individualismo de forma específica (ou poderíamos dizer, saudável), ele se torna um ingrediente indispensável para a felicidade e bem-estar financeiro.
Afinal, coletivismo compulsório é tão ruim ou ainda pior que individualismo arbitrário. Quem já foi ou é constrangido, por exemplo, a ajudar regularmente a família com dinheiro facilmente experimenta um misto de culpa, indignação e responsabilidade que não lembra muito a felicidade.
Porque ser individualista?
A edição de hoje é baseada em um artigo que levamos para a última aula do aprimoramento para psicólogos, Money worlds’’ and well-being: An integration of money dispositions, materialism and price-related behavior, de Miriam Tatzel. Na verdade, é baseada em um dos resultados (interessantíssimos) que ele apresenta:
Ao examinar a relação entre a sensação de bem-estar geral com a e as aspirações financeiras nos indivíduos, pessoas que tinham objetivos principais intrínsecos - como cultivar bons relacionamentos, diversão e desenvolvimento pessoal - apresentaram níveis mais altos de autorrealização, vitalidade, saúde e felicidade do que pessoas cujos objetivos principais eram extrínsecos - como buscar sucesso financeiro, status social ou fama.
Objetivos intrínseco são aqueles que tem importância e significação por si próprios, independentemente da relação com outras coisas ou pessoas. Objetivos extrínsecos são aqueles que, em última instância, dependem de algo que está fora, como bens materiais ou aprovação social.
O que isso tem a ver com ser individualista?
De acordo com o artigo, o individualismo, como sistema de valores, está associado a um maior bem-estar pessoal uma vez que é intrinsecamente motivado.
Uma revisão exaustiva da literatura, conforme apresentada no artigo, identificam os valores fundamentais do individualismo como independência e singularidade pessoal, ou seja, a possibilidade de escolher livremente por objetivos e estilos de vida com base em quem realmente somos, sem constrangimentos externos.
Nessa perspectiva, o problema do coletivismo seria sua motivação extrínseca: quando ele é motivado por fatores externos, quando existe coação, quando nos comportamos de determinada forma buscando aprovação social. É mais ou menos o caso de quem age de determinada forma para não decepcionar a família ou os amigos, acudindo às expectativas do grupo.
Para deixar tudo mais claro, um trechinho:
Quando os relacionamentos são baseados em inclinações pessoais, a motivação provavelmente será intrínseca; quando as relações são essencialmente “atribuídas”, a motivação que mantém a ordem social pode muito bem ser extrínseca. […] A verdadeira intimidade baseia-se no afeto e não na proscrição, e a individualidade (individualismo) é de fato um pré-requisito para o amor. Os individualistas não atribuem menos importância às relações pessoais do que os coletivistas, mas para os individualistas a percepção é que essas relações são escolhidas e voluntárias, em vez de atribuídas ou prescritas (p.109, grifo nosso).
E aqui chegamos em um ponto muito importante: o individualismo, aqui, não está, como de costume, associado ao narcisismo e à competividade, pelo contrário, ele até tende a uma vida coletiva. E é também verdade que só com um pouco de individualismo podemos construir um senso de coletivo realmente autêntico, voluntário e livre.
É claro, o coletivismo (como entendido no artigo), não é completamente disfuncional. Longe disso, ele pode ser uma estratégia eficiente em contextos de escassez: “menos pessoas nas sociedades coletivistas ‘fazem o que querem’, mas menos indivíduos são deixados à própria sorte” (p.109).
Além disso, existe uma dimensão desse coletivismo que será sempre inescapável: cada um de nós haverá de cumprir com obrigações e expectativas sociais se quisermos ser membros úteis e integrados em uma sociedade. Fugir disso é irresponsabilidade.
O pulo do gato
Mas não é como se o individualista fosse pensar só em si mesmo e ter apenas objetivos referentes à própria pessoa. Uma individualidade saudável é invariavelmente empática.
Afinal, pesquisas mostram que o sentimento de comunidade leva à autorrealização, mas apenas quando o comunitarismo tem uma motivação intrínseca, ou seja, quando é escolhido livremente e é um fim em si mesmo, e não quando prescrito e cumprido a fim de satisfazer uma expectativa social externa.
O pulo do gato para sermos mais felizes consistiria em uma (auto)educação em que, através da liberdade e da autonomia, pudéssemos encontrar o verdadeiro valor e prazer em apoiar e se doar à nossa comunidade. Afinal, sabemos bem como os relacionamentos são uma das melhores partes da vida.
Tudo isso talvez possa nos ajudar a ficar com o coração mais tranquilo para priorizar o que realmente tem valor nós!
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Psi, essa é pra você!
No Aprimoramento a Adriana levantou uma bola que reverberou em conversas posteriores e achamos por bem trazer a reflexão pra cá também.
Ela falou sobre a importância de, em um atendimento, levantar hipóteses, mas de não se apegar muito a elas.
Sempre podemos nos enganar, nunca teremos uma visão total da questão do nosso cliente. E além do mais, mesmo que nossas hipóteses estejam certas, é muito importante que o cliente se sinta escutado e considerado, e isso não vai acontecer se já supormos que temos a reposta.
Às vezes, nossa teimosia pode ser insensível.
Você sabia que temos um grupo de WhatsApp só para psicólogos? Lá conversamos sobre esse e muitos outros assuntos relacionados à prática clínica e à Psicologia do Dinheiro. E fique tranquilo, não é um grupo de divulgação de trabalhos. Entre no grupo clicando aqui!
Abraço forte,
Adriana, Mateus e Evandro