Oi oi meu povo,
Nessa edição, temos festa.
Vamos falar sobre o começo de uma festa cujo tema é “a nova trend na psicologia - a psicologia do dinheiro” (e se você, como eu, também tem dificuldade com gírias em inglês, trend é “tendência”); e esse email é basicamente o convite pra festa.
Essa festa é pra você? O que torna essa festa diferente da do vizinho? Qual é a vibe da festa? Pode ir de chinelo? Vai tocar lambada?… Bem, essa newsletter veio pra responder a essas perguntas, mas não, não vai tocar lambada.
Se eu fosse você, ficava até o final, porque vai ter bolo.
Antes de começar o “tunts tunts”, alguns avisos importantes:
A cada dia que passa o Programa Autodescoberta Financeira (PAF) fica melhor. A partir do próximo semestre, teremos um acompanhamento financeiro extra com um planejador. A próxima turma abre em breve, se quiser entrar na lista de espera, só clicar aqui.
A lista da próxima supervisão para psicólogos e terapeutas também está aberta. Serão dois casos supervisionados mais um estudo de caso. Se quiser se inscrever (sem compromisso), clica aqui.
E tem novidade para os psicólogos(as) interessados em psicologia do dinheiro, mas é só no final do email!
Agora, é festa!
Uma nova festa no pedaço
A gente está fazendo uma coisa nova por aqui. Não sei se você sabe, mas a psicologia do dinheiro é um campo recente. Uma subárea da psicologia econômica que vem ganhando contornos específicos nos últimos tempos. Estamos no começo de uma festa: um pessoal chegando, outro querendo chegar, e um bocado de gente ainda entendendo o que está rolando.
A verdade é que é difícil entender a singularidade da psicologia do dinheiro com todo o ruído de outras áreas adjacentes (necessárias e interessantes, diga-se de passagem) que fazem coisa (muito) parecida: economia comportamental, psicologia econômica, finanças comportamentais… mas não, a psicologia do dinheiro não é nenhuma delas.
O sabor do bolo muda, a disposição dos elementos também; umas tem brigadeiro e MPB, outras também tem MPB, mas só Bossa Nova. Vai ficar mais claro.
Nossos parceiros de dança
Metaforicamente, estamos dentro de um festival. As ciências comportamentais já começou há um tempo com gente interessada em examinar os comportamentos e processos mentais. É um festival que reúne várias tribo que se ajudam mutuamente: psicologia, sociologia, antropologia, economia, neurociência, dentre outras… Mas é também verdade que dentro do festival existem festas diferentes, então vamos lá.
Começando pelas finanças comportamentais, que é a aplicação da psicologia ao processo de tomada de decisões financeiras e aos mercados financeiros, com a aplicação de pressupostos das ciências comportamentais às análises financeiras de base neoclássica (Shefrin, 2010). Diferentemente do modelo econômico tradicional, para quem os tomadores de decisão são considerados racionais e “maximizadores de utilidades”, as finanças comportamentais reconhecem influências heurísticas e ilusões derivadas de crenças tendenciosas na ação dos sujeitos (Lima, 2003).
A economia comportamental tem origem na insatisfação de economistas com as explicações oferecidas por sua própria disciplina para os comportamentos econômicos, individuais ou não, observados na prática. Busca contribuições em outras áreas, como na psicologia, sociologia, antropologia, história e biologia (Ferreira, 2007) e nasceu da interação entre R. Thaler - que identificou padrões no comportamento econômico incompatíveis com a teoria econômica clássica - e D. Kahneman e A. Tversky - que exploraram como explicar essas anomalias. Em essência, está preocupada com os limites da racionalidade dos agentes econômicos (e as pessoas, como eu e você, são um tipo de agente) e as decisões que são feitas a partir disso.
A psicologia econômica, por sua vez, é “o estudo da vida mental que acompanha comportamentos econômicos e tomadas de decisão”, de acordo com a prof. Vera Rita. O foco de interesse são os equívocos que cometemos quando administramos recursos finitos como dinheiro, tempo, autocontrole e recursos naturais.
É difícil distinguir entre psicologia econômica e economia comportamental. Há quem diga (Ranyard, 2017) que as semelhanças entre as duas são mais importantes que suas diferenças já que ambas reconhecem as mesmas raízes históricas, ambas são ciências empíricas e ambas estão motivadas a desenvolver suporte efetivo aos indivíduos e à sociedade no domínio econômico. Mas existem diferenças a nível ontológico, epistemológico e ético.
A psicologia econômica se baseia na psicologia contemporânea, que tem como objetivo modelar a vida mental, enquanto na economia comportamental o elemento psicológico é baseado na psicologia do julgamento e da tomada de decisão (ontologia). A psicologia econômica utiliza uma gama mais eclética de métodos - se utilizando de cenários hipotéticos, p.ex. - onde a economia comportamental é mais restrita - se nutrindo apenas de dados do mundo econômico real (epistemologia). Por fim, abordagem de pesquisa varia também quando a psicologia econômica e a economia comportemntal têm códigos éticos diferentes em suas pesquisas (Ranyard, 2017).
Fato é que, cada vez mais, as distinções entre as duas estão se tornando confusas.
Só que tem mais; porque tem nois!
Uma combinação única
A psicologia do dinheiro também estuda nosso comportamento com o dinheiro, com foco acentuado no significado psicológico que damos a ele (Furnham; Argyle, 2000). Colocamos uma lupa sobre o uso no cotidiano de pessoas comuns e em diversos contextos como a família, o casamento, a infância etc. Além disso, é uma área que se integra a outras áreas da psicologia para projetar e implementar intervenções específicas centradas no cliente para facilitar a resolução de problemas do cliente e promover sua saúde (Klontz, Kahler e Klontz, 2016).
(Breve digressão: aqui, a diferença com relação à psicologia econômica seria a de que essa estuda a tomada de decisão diante de vários recursos finitos, enquanto a psicologia do dinheiro estudaria somente diante do dinheiro [sim, é tudo muito parecido, mas relaxa e segue o fluxo]).
O importante aqui é a direção do olhar: estamos procurando pelo que nos motiva e pelo papel que o dinheiro tem na nossa vida. Nossas abordagem fala também sobre atitudes e crenças em relação ao dinheiro; como o medo, a ganância, a culpa, a ansiedade e a felicidade influenciam nossas decisões financeiras e o bem-estar subjetivo; como a educação financeira que recebemos em casa, os modelos parentais e as experiências familiares moldam as atitudes, comportamentos e habilidades financeiras das pessoas.
Os diferenciais aqui são: (1) foco no significado psicológico do dinheiro, (2) aplicação prática e direta na resolução das questões financeiras (3) visando a saúde - financeira, mental, interpessoal e, no fim das contas, integral - do cliente. Esses 3 pontos não estão juntos em nenhum outro caso e dão uma boa imagem do que fazemos por aqui. Isso daí você só encontra na nossa festinha.
Mas se formos ser bem precisos - ainda que nesse momento do desenvolvimento dessas áreas isso seja extremamente difícil - a verdade é que isso é o que nós, do Instituto Psicologia e Dinheiro, fazemos, e a trajetória da Adriana mostra isso. Ao longo de estudos que se desenrolaram por anos em distintas áreas (como psicotrauma, terapia sistêmica, terapia comportamental, terapia comportamental cognitiva, bioenergética, sistema familiar interno), a Dri foi dando aplicações práticas a várias noções que ainda permanecem restritas ao âmbito da pesquisa.
Não à toa, se você for estudar o material disponível sobre a área por aí, pode ser difícil aplicá-lo de imediato. Demorou um tempo para que nós chegássemos onde estamos e o processo foi parecido com uma colagem: a Adriana juntou técnicas de diferentes abordagens com o referencial teórico da psicologia do dinheiro (e das áreas adjacentes) para resultar numa prática clínica inédita, o que você pode conferir por si mesmo.
Seja como for, dando uns passinhos para trás, essas áreas são sim parecidas, afinal, todas estão dentro das ciências comportamentais, e seus desenvolvimentos mais recentes tendem a misturar ainda mais as coisas. Para nós, aqui, esse nível de detalhamento não é tão relevante, (e a verdade é que não sabemos pra onde isso vai) mas se você tem interesse em saber mais, comenta lá embaixo ou responda a esse e-mail que podemos conversar melhor.
Pode vir de chinelo e roupa amassada
Vamos a um exemplo prático:
Você quer organizar melhor o seu dinheiro, mas não consegue, embora tenha tentado várias vezes. É difícil pensar em mexer numa planilha, alguma coisa dentro de você bloqueia o hábito de registrar seus gastos, olhar o extrato talvez te deixe ansioso etc.
Uma estratégia para resolver isso seria facilitar seu acesso às ferramentas que você precisa, talvez deixá-las com uma cara mais amigável... em última instância, reestruturar, de maneira inteligente e favorável, seu contexto externo. Grosseiramente, é como a economia comportamental lidaria com o problema.
Nós, de outra maneira, vamos olhar o que está por trás do seu comportamento: que significado a organização financeira tem na sua história (individual, familiar e cultural)? O que a desorganização quer revelar? Como podemos “reeducar” essa estrutura psíquica para agir de outra forma? Em suma, vamos mudar o contexto interno e, consequentemente, operar uma mudança sistêmica que vai impactar vários comportamentos e outras áreas da sua vida.
E existe um pressuposto lindo aqui: tudo tem um significado; mesmo os comportamentos mais aleatórios têm as razões mais legítimas para existir porque contam uma história que pede para ser ouvida.
Por aqui, nós honramos mesmo as partes mais feias e difíceis da gente, e mesmo assim (ou talvez por isso mesmo) estamos completamente engajados em ajudá-las. Na nossa festa, entra tudo o que for verdadeiro sobre a gente.
Desse processo, quando menos esperamos, nasce uma vida financeira completamente diferente.
Obs: é importante dizer que a economia comportamental é bem mais complexa do que isso. Simplificamos as coisas para fins didáticos (e espaciais).
O bolo do final
O melhor da festa não é a notícia sobre ela, mas é curtir junto com a galera. Nossa festinha tá só começando, porque a psicologia do dinheiro está só começando. Ainda são pouquíssimos profissionais que estudam essa área, mas não tenho dúvida de que ela vai crescer, porque a demanda é grande. O som já tá rolando, tem brigadeiro, suco orgânico e pode vir de chinelo sim, só lambada que é proibido (mas se quiser pode). Tem PAF, tem supervisão, tem oficina de vez em quando, tem newsletter e tem muito conteúdo bom no instagram, só que agora tem mais…
Estamos abrindo, pela primeira vez, um grupo exclusivo para psicólogos(as) no Whatsapp para trocarmos conhecimento e experiências sobre o tema. Será um espaço de partilha de artigos e reflexões relevantes, discussão teórica e sua aplicação no consultório. Juntos, vamos explorar desafios e oportunidades, fortalecendo nossa atuação como psicólogos.
O lançamento oficial do grupo é hoje! Se quiser participar, é só clicar aqui e se alongar, porque a pista de dança vai abrir.
Abraço em você,
Equipe Psicologia e Dinheiro
Ref. Bibliográficas
Ferreira, Vera Rita de Mello. Psicologia econômica: origens, modelos, propostas. 2007. 327 f. Tese (Doutorado em Psicologia) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2007.
Furnham, A. & Argyle, M. (2000) A Psicologia do Dinheiro. Lisboa, Sinais de Fogo.
Katona, George, Psychological Economics. Nova York: Elsevier: 1975
Klontz, Bradley, Rick Kahler e Ted Klontz. 2016. Facilitando a saúde financeira: ferramentas para planejadores financeiros, treinadores e terapeutas , 2ª ed. Erlanger, KY: The National Underwriter Company.
Lima, Murillo Valverde. Um estudo sobre finanças comportamentais. RAE-eletrônica, Volume 2, Número 1, jan-jun/2003.
Ranyard, Rob (Ed.). Economic Psychology. Wiley-Blackwell, 2017