Você é capaz de suportar uma crise?
Setembro Amarelo e um guia para construir sua resiliência financeira
Numa escala de 0 a 10, quanta resiliência você acredita ter para lidar com crises financeiras?
Na hora que a coisa aperta é que vemos o quão preparados estamos para lidar com uma situação estressante, exigente e muitas vezes decisiva. Nesse momento, nosso grau de resiliência pode ser a diferença entre o sucesso e o fracasso, entre a regeneração e a estagnação, entre a motivação e a desistência.
Em pleno Setembro Amarelo, mês de prevenção ao suicídio, a provocação ganha ainda mais valor: a resiliência é uma virtude essencial num mundo que pode, por vezes, parecer insuportável.
Na edição de hoje, falamos sobre suicídio, os elementos “ocultos” das nossas crises financeiras e como, afinal, desenvolver mais resiliência para o dia a dia.
O modelo cúbico
Edwin Shneidman, psicólogo considerado fundador da suicidologia, propôs a concepção do “modelo cúbico”, um modelo em que o suicídio é entendido como o resultado da confluência de um máximo de dor, um máximo de perturbação e um máximo de pressão. Um estresse tridimensional que suprime o indivíduo numa percepção claustrofóbica e momentaneamente insuportável da existência. Em suma, esse “cubo” é um lugar de crise aguda
Mas todos nós conhecemos, mesmo que em grau menor, o lugar da crise. Momentos em que as circunstâncias tensionam nossos limites confortáveis de tolerância e somos convocados a agir. A questão aqui é: estamos nos preparando para lidar com esses momentos de tensionamento?
Seja no caso limite do suicídio, seja diante de um endividamento, a resiliência é o que vai te fazer seguir em frente e tomar boas decisões mesmo quando as dificuldades vierem e as soluções parecerem não existir. Veja esses estudos…
Como uma crise financeira nos abala
Um estudo realizado na Suécia indicou que pessoas que passaram por endividamento financeiro tiveram duas vezes e meia mais chances de cometer suicídio;
Outro estudo indica que, globalmente, o aumento da incerteza econômica, bem como do desemprego e do crescimento econômico, levam a um aumento do risco de suicídio.
Pessoas com dívidas têm três vezes mais chances de pensar em suicídio. (The Money and Mental Health Policy Institute, 2018)
Quase um quarto das pessoas (23%) que tentaram suicídio no Reino Unido em 2017 estavam com dívidas problemáticas. (The Money and Mental Health Policy Institute, 2018)
Em nossas pesquisas encontramos muitos estudos indicando alguma correlação entre o gesto limite do suicídio e um contexto de crise financeira, como, nesses casos, o endividamento, o desemprego a incerteza financeira. Ainda assim, essa correlação não é absoluta e sofre a interferência de muitas variáveis que, por vezes, levam a outras conclusões; ou seja, mais estudos são necessários para afirmarmos cientificamente que crises financeiras aumentam o suicídio. Mas de nossa parte, há bons motivos para crermos que uma coisa se relaciona com a outra…
A partir da Psicologia do Dinheiro vemos que uma crise financeira pode gerar severas reverberações emocionais exatamente porque o dinheiro tem um lado marcadamente afetivo nas nossas vidas. O sentido que ele tem para nós (e ele sempre tem muitos sentidos) é uma das coisas que compõe nossa identidade, autoestima, valores e objetivos, ou seja, nosso mundo. Quando uma das bases desse mundo entra em crise na nossa vida, o restante também pode ficar abalado.
É por isso que uma crise financeira pode muito bem desencadear crises emocionais, profissionais, familiares, existenciais e muito mais, como vemos repetidamente em consultório por aqui.
Por trás da crise
Um estudo publicado pela British Medical Journal, em 2013, mostrou que, em 2009, ou seja, após a recessão de 2008, houve um aumento no número de suicídio na Europa e nas Américas, mas sobretudo para os homens. O que é curioso…
O estudo mostrou um aumento de 11,7% para os homens europeus e de 5,2% para os homens americanos, em comparação a uma aumento de 2,3% para mulheres americanas e sem alterações para as mulheres europeias. O que isso pode significar?
Sabemos que, culturalmente, o dinheiro é símbolo de poder, sucesso profissional e status social, características que ainda definem, para muita gente, a identidade masculina contemporânea. Um homem, sem dinheiro, portanto, pode se sentir fracassado, incapaz, fraco, em suma, sem valor. A crise é certa.
Além do mais, homens tem mais resistência a pedir ajuda, por acreditarem que isso os tornaria mais fracos, ou seja, menos homens.
Essas nuances culturais mostram que o dinheiro pode significar aspectos centrais na nossa vida, e que uma crise financeira pode levar a uma crise ainda mais profunda.
Juntando tudo o que falamos até agora, não são os problemas financeiros que provocam o suicídio, mas a crise gerada a partir do significado e função do $ na nossa vida, especialmente quando temos pouca educação emocional e autoconsciência financeira.entã
Então quando falamos de resiliência a crises financeiras, para voltar ao nosso tema, também estamos falando de resiliência emocional e psicológica, isto é, capacidade de se adaptar e responder efetivamente às adversidades, nesse caso, emocionais e financeiras.
Como desenvolver resiliência financeira e emocional?
Existem estratégias externas que facilitam a resiliência em contextos de crise, como ter um bom planejamento financeiro, manter uma reserva de emergência, reduzir dívidas etc, tudo isso é fundamental, mas é só um lado da moeda.
O outro lado da resiliência envolve o que chamamos de inteligência emocional financeira: a capacidade de gerenciar as próprias emoções, atitudes e comportamentos em relação às finanças de maneira saudável, consciente e eficaz.
Algumas estratégias para desenvolver essa capacidade são:
Autoconhecimento: é simplesmente impossível fugir disso; é a primeira e última coisa que você deve fazer. Descobrir e entender sua relação com o dinheiro, suas crenças, valores, emoções, comportamentos e expectativas é essencial.
Autorregulação Emocional: saber algumas técnicas e princípios para se autorregular emocionalmente vai te conferir autonomia para gerenciar de maneira prática e eficiente suas próprias emoções, pensamentos e comportamentos em situações financeiras emocionalmente carregadas. (No final deixamos um link para uma dessas técnicas).
Mentalidade realista e positiva: ser capaz de enxergar os fatos com objetividade, sem fugir da realidade ou fingir que os problemas não existem, mas ainda assim manter uma dose de otimismo faz toda a diferença no processo.
Rede de apoio: estar aberto a procurar ajuda e estabelecer relações de apoio saudável diminuem e muito a pressão emocional.
Flexibilidade: já dizia o ditado chinês, “em noites de tempestade, as árvores rígidas são as primeiras a quebrar”. Abra sua cabeça, esteja disposto a se reinventar e testar coisas novas.
Acompanhe nossa newsletter: estamos sempre trazendo informações e orientações para o desenvolvimento da sua inteligência emocional financeira.
Tudo isso é importante, mas mais importante ainda é: caso você esteja deprimido e tenha pensamentos suicidas, ligue para o Centro de Valorização da Vida (CVV) por meio do número 188 (as ligações são gratuitas para todo o Brasil) e procure ajuda psiquiátrica. Você não está sozinho; muitas pessoas também estão passando por isso.
Enfim, propomos o tema da resiliência porque sabemos o quão desafiador pode ser lidar com o dinheiro. É tanta coisa que ele desperta, é tanta coisa que ele significa e ele está tão entremeado à nossa vida que sabermos mais sobre a Psicologia do Dinheiro nos ajuda a vivermos bem melhor.
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Psi, essa é pra você: qual é o teu lugar nisso tudo?
Na semana passada começamos o Aprimoramento Profissional em Psicologia do Dinheiro e foi uma alegria começar um aprimoramento exclusivo para psicólogos depois de tanto tempo sem oferecer algo parecido.
Na primeira aula começamos por definir bem a nossa função e campo de atuação quando o assunto são as questões financeiras. Vamos virar planejadores financeiros? Qual a diferença entre um psicólogo do dinheiro e um economista comportamental? O que estamos fazendo é o mesmo que Psicologia Econômica? (Pra te adiantar, não é) Temos que prestar consultoria financeira? Tudo isso ajuda a gente a fazer melhor nosso trabalho, como relatou uma psicóloga na aula:
“É bom, depois de ouvir tudo isso, saber que, enquanto psicólogos clínicos, não precisamos e não devemos exigir o que não é nosso. Ter essa compreensão e clareza é bom para podermos dizer isso ao outro e regular as expectativas nossas e dos nossos clientes”.
Falou tudo.
Aproveitamos para fazer um último convite para o Aprimoramento. As inscrições só vão até terça que vem, dia 19/09, quando teremos a próxima aula. É sua chance de ampliar sua abordagem e aprender a trabalhar com as questões ligadas ao dinheiro dentro do consultório, apoiando seus clientes a desenvolverem inteligência emocional financeira. ;)
Você pode saber mais e fazer sua inscrição clicando aqui.
Ah, e se esse asunto te interessa, nessa edição da newsletter fizemos uma distinção da Psicologia do Dinheiro dentre as demais áreas das Ciências Comportamentais.
Não esquecemos!
Como prometido, aqui está um reels que a Dri fez ensinando um exercício de autorregulação emocional para momentos de estresse financeiro.
E se você tem uma preocupação constante com a falta de dinheiro, já ouviu falar no Túnel da Escassez?
Um abraço,
Adriana, Evandro e Mateus
Cada edição é um mergulho valioso em tudo que o dinheiro afeta e provoca dentro de nós. Muito obrigada pela dedicação e compromisso em trazer temas tão importantes, fundamentados em estudos, pesquisas e experiência clínica responsável e competente.
Especial destaque para o trecho abaixo:
"A partir da Psicologia do Dinheiro vemos que uma crise financeira pode gerar severas reverberações emocionais exatamente porque o dinheiro tem um lado marcadamente afetivo nas nossas vidas. O sentido que ele tem para nós (e ele sempre tem muitos sentidos) é uma das coisas que compõe nossa identidade, autoestima, valores e objetivos, ou seja, nosso mundo. Quando uma das bases desse mundo entra em crise na nossa vida, o restante também pode ficar abalado.
É por isso que uma crise financeira pode muito bem desencadear crises emocionais, profissionais, familiares, existenciais e muito mais, como vemos repetidamente em consultório por aqui."